quinta-feira, 11 de junho de 2009

Coisas de família

Nesta sexta é aniversário da minha mãe. Pode uma mãe fazer aniversário no Dia dos Namorados? Exagero puro! Sétima de uma prole de onze, dona Maura faz 67 com corpinho de 66. Devem vir quase todos os sete irmãos vivos. Sem contar que já se perdeu na lembrança a última vez que aniversariou com os dois filhos presentes. E está rolando quermesse na praça da matriz. Festão à vista, sô.

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Por falar em aniversário, dona Zizinha – Elzira Ilza Tizziotti de nascimento – faz 90 no final de agosto. É minha avó paterna. Dos meus quatro avós, restou ela. É caçula também de onze. E a única viva. O marido Paulo Fischer foi-se há uns dois ou três anos. E se foi sem revelar no pé de qual mourão está aquele olho de machado que enterrou quando se casaram.

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Mas não dá pra reclamar. Paulo Fischer viveu até os 88, morreu sem sentir dor, a não ser a dor de não poder mais trabalhar. Perdeu o pai com 13 anos. Junto com a mãe, criou os cinco filhos menores. O pai dele morreu com 45 anos. Pisou num prego enferrujado e, semanas depois, calçou sua primeira botina. Morreu de tétano.

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Nossa descendência alemã é longínqua. Meu avô era neto de alemães. Já dona Zizinha é filha de italianos. Não se lembra de onde vieram, porém. Lembra-se apenas da mãe falar que vieram de Nevécia. Essa é a pronúncia. Não sei se é Veneza em italiano ou há outra cidade assim por lá. Lembro de ter lido sobre alguma Nova Venécia não sei onde. No interior de São Paulo ou do Mato Grosso.

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Somos ruins quando o assunto é memória. Cultivamos muito pouco isso. Uma pena. Embora eu acredite que o pessoal, além da pouca instrução, não tinha lá muito tempo para pensar nisso. Trabalho na roça é phoda. Meu avô criou os cinco irmãos menores e, depois, três filhos, tocando um sítio de dez alqueires – sete agricultáveis. Deu casa a cada um dos filhos, assim que casaram. Foi-se deixando o sítio e uma casa de herança, e nenhum centavo de dívida.

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Do lado paterno, minha família é muito pequena. Da vó Zizinha até a Natália, minha filha, somos em apenas dez. Do lado dos Cherutti, da minha mãe, o bicho pega. São 30 primos de primeiro grau. De segundo, 40. Não conheço a metade. É uma parte também italiana: Cherutti e Bife, embora o patriarca seja o Bernardo Cerut – daí, toda vez que ia registrar um filho, acrescentava-se um h, um t, um i. Um rolo danado. Eu achava que Cerut era espanhol.

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Mas não. A Judite, oitava dos onze irmãos, é a que mais se preocupa com a descendência. Falou esses dias que gostaria muito de ter a árvore genealógica da família. Nossa documentação é parca. Judite é professora aposentada e fica procurando coisas para passar o tempo. Tá numas de cibernética. É ativa integrante da Pastoral da Criança. Entrou em aula de computação para aprender mandar e-mail. Propus que procurasse aquele lance dos mórmons de Salt Lake City, onde, reza a lenda, há um bunker com os registros de todos que nasceram do neolítico para cá.

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Estou falando da família porque hoje à tarde, depois de limpar um frango que já estava virando galo, ao riscar uns mamões pra madurar, minha mãe contou que sempre que risca mamões lembra do Vadico, irmão dela. Vadico é o terceiro dos onze. Moravam todos na roça. Minha mãe disse que, quando chegava a hora de namorar, o Vadico lavava as mãos com nódoa de mamão para impressionar a Maria. “Como ele gostava daquela Maria...” Casaram, tiveram três filhos. Os dois mais novos – Durval e Noraldo – levam a vida em Ribeirão Preto, fazendo não sei o quê. O mais velho, Norivaldo, é gerente regional, ou algo assim, superintendente, talvez, do Bradesco, em Osasco. Todos têm filhas. Cada uma mais bonita que a outra. Vadico morreu de Chagas, aos 33 anos.

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O segundo dos onze irmãos Cherutti é o Jair. Perdeu a mulher cedo, casou de novo. Aos 78, é pai de um rapaz de 24 e outro de 22. Cruzei com ele no Bar do Dalmo, terça-feira. Foi buscar coca-cola pro jantar, sentou-se e tomamos umas quatro ou nove, como diz meu amigo-irmão Briguet, de Londrina. Sei que a conta deu R$ 24. Cerveja em cidade pequena é mais barata. Dois e alguma coisa.

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Jair voltara aquele dia de Ribeirão. Foi visitar a primeira filha e tirar sangue para exames pré-operatórios. Vai operar o menisco do joelho direito. O médico teria dito que não sabe como ele consegue andar com os meniscos naquele estado. E Jair jogava bola até três anos atrás. Parou por causa das dores. Vai colocar prótese. Acho que em velho artroscopia não cola mais. Mas já avisou o pessoal da chácara que ainda pensa numa boa pelada.

6 comentários:

  1. Tá visto o Blog, amigo. Diferente do que disse o "Boca Doce", precisa de um pouco mais de três clicks para criar um Blog esperto. Mas você chega lá. Parabéns à dona Maura por mais um outono de vida.

    Um abraço,

    Armando

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  2. Valeu, Armandão. Mas é "Bico Doce", o apelido do cara. Não me comprometa! rsrsrs

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  3. Capucho lançou o desafio, aí abaixo: a sua visão do interior dá livro e a história de sua bonita família também. Cumprimento sua mãe pela feliz data. É um privilégio mesmo, em pleno Dia dos Namorados.Tem acompanhado a briga Cuiabá X Campo Grande pela sede da Copa no Pantanal? E o Wilson Santos, que construirá um novo Verdão com dinheirinho do povo cuiabano? Analise aí, brother.
    Abraço e uma sexta-feira feliz. Quanto vier a Brasília tomará um porre de açaí do pará com este magro véio aqui.

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  4. Valeu Fischer,
    Bom revê-lo. Bons tempos de O Dário. Obrigado pelo espaço que deu para os meus rabiscos, que alguns chamam de artigos, falando da Doutrina Espírita.

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  5. Não precisa agradecer, Valcir. Pluralidade e democracia são nosso norte. E nossa obrigação. Grande abraço.

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  6. Pô só tem elogio? No meu blog eu só levo porrada. rsrsrsr

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