segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sou membro não-praticante desse movimento


Sempre caio em presepadas de amigos. A última, já contei aqui, foi em São Paulo, coisa de um mês, quando assisti Palmeiras x Coritiba na torcida do Coritiba. Minha lista de manezices é ilimitada. Algumas, inocentes. Outras, brabas. E não faço muito esforço para ser diferente. Vou aceitando as coisas que acho que devo aceitar e pronto. Se me danar no final, foda-se. Prefiro me danar fazendo as coisas de peito aberto, coração limpo, de boa, do que ficar me policiando para não parecer otário. Otário é quem acha que me faz de otário. Enfim, tem coisas que você aceita por achar que deve fazer e pronto. Dias atrás recebi dum amigão e-mail falando sobre o Movimento Marina Silva Presidente. Para mim, que já me estrepei por convicções político-ideológicas, aquele e-mail do Montezuma Cruz passou batido como passa um informativo sobre promoções do shopping, mas, sei lá, deu um estalo e cliquei no dito cujo. Até porque o que vem do Monte, figurativamente falando, não precisa de antivírus. O texto informava sobre o movimento e convidava para fazer parte. Preenchi lá um troço rápido e passei, em poucos segundos, a integrar o Movimento Marina Silva Presidente. Depois parei para pensar. Gostei do que fiz. A iniciativa me fez lembrar da figura da Marina. Taí uma pessoa porreta. Do bem. Pedra 90. Nunca li uma vírgula falando mal dela. Tudo bem, com o PT, no começo dos anos 80, também era assim, seu mané. Mas é diferente. Marina é petista histórica e, apesar deste governo, do qual fez parte, parece que nem petista é. Manteve, após alguns anos no Ministério do Meio Ambiente, uma reputação ilibada. Se teve erros, foi por excesso de zelo, de franqueza e sinceridade. Enfrentou o turbilhão progressista com altivez, embora estejamos falando de um progresso à la Sarney, à la Jader, à la Blairo, à la Cassol, mais pautado na motosserra que na sustentabilidade. Enfim, tem horas que parece inevitável que tenhamos que queimar cartuchos para termos energia, por exemplo, mas é de emocionar como era difícil, com Marina no governo, aprovar uma obra que mexesse com o habitat natural. Enfim, cliquei naquele e-mail do Monte como quem vai para a missa, sem compromisso algum. Sou tão atuante no movimento como sou na igreja, porém, mesmo esse apoio tímido, solitário, descompromissado, me fez bem. Me fez bem participar de algo, depois de tanta frustração com que achávamos que viraria o país quando o PT chegasse ao poder. É bom saber que esse país ainda tem reservas morais como essa moça. Nunca fez badalação, nunca leu-se nada sobre um acordo espúrio, um aliança nada a ver, um conchavo dela, nada. Vou confessar uma coisa: quando estou sem nada para ver na TV, um jogo, um filmão, algo assim, se eu zapeio a TV Senado, eu paro pra ver. Audiências em comissão, inclusive. E ver essa moça atuando é garantia de bons momentos. Ela não esmorece nunca. À menor pisada na bola de uma vossa excelência qualquer, ela coloca o sujeito no seu devido lugar. Se você tiver alguma dúvida sobre alguma questão crucial que esteja em pauta, pergunte a Marina – ela lhe dará um parecer que, no mínimo, te colocará por dentro da coisa. Sempre tem uma opinião balizada, calibrada, enérgica. Lancinante e ao mesmo tempo meiga. Ela consegue destruir o raciocínio alheio com uma calma, uma ternura inigualáveis. É o Che de saias. E sem disparar um estilingue sequer. Do seu rosto só se depreende seriedade. Contar uma piada com Marina Silva na roda soa até esquisito. Falo tudo isso a distância, lógico, posto que não a conheço pessoalmente. Mas diga aí, de sopetão, a quem você daria a chave do cofre? A quem você confiaria seu imposto de renda? A quem você faria uma confidência? Quem, se esse poder tivesse, você alçaria à presidência da República? Dilma? Aecinho? Ciro? Serra? José Ato Secreto Sarney? Você vai pensar um ano e vai ficar eternamente na dúvida. No Lula 80%? Nem que a vaca tussa, ô meu. Nem que chegue a 99% de aprovação. Não, não vou satanizar o presidente, ele faz o que pode com o que tem. Mas Marina traz uma confiança que eu acreditava perdida. Gosto daquele prefeito do Rio também. Marina, contudo, é mulher formada, pronta, acabada. Forjada na vida e na política. Daria a ela a chave do Planalto e da Granja sem pestanejar. E sabe por que eu não culpo o Lula? Porque não adianta. Mesmo que tivéssemos uma Marina presidente, é preciso conviver com a escória legislativa, judiciária. Todo presidente tem seu esquema. O de Lula, depois que o mensalão veio à tona, foi se segurar em Delfim, Sarney, Renan, Collor, Quércia, Jefferson e o escambau de bico para manter-se no poder, ele e a turma, que parecia pé de amendoim: quando é arrancado, vem aquele monte de apêndices junto. O esquema de Lula é nomear Ricardo Barros vice-líder, é permitir que deputado aproveite “o fortalecimento da mídia regional” para emplacar notinhas em jornais. É fazer tudo igual como sempre foi, para ver se faz uma coisinha aqui, outra ali, que justifique o título de Partido dos Trabalhadores. É elogiar desmatador, é absolver grilheiro, é afagar usineiro, é abraçar banqueiro. Com Marina ou qualquer outro, esse esquema, essa coisa maior, essa coisa macro, que os sociólogos, acho, chamam de status quo, não mudaria. Mas sei lá. Com Marina, eu dormiria mais tranqüilo. E isso, pô, isso não é pouco.

Um comentário:

  1. Caríssimo:
    Essa menina é boa gente, mas não teria a mínima condição. Em duas semanas, viraria refém da realpolitik.
    Mas é prova do seu (teu) caráter.

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