quarta-feira, 10 de junho de 2009

Istórias do interiô


Há menos de três semanas em Guará (SP), curtindo a família, já ouvi um sem número de piadas, posto que aqui, como na maioria das cidades do interior de São Paulo que conheço, o povo gosta mesmo é de beber, escutar Tião Carreiro e dar risada. Como piada, conta-se também passagens reais, fruto da caipirice com a qual o povo se diverte, zombando, como se zombasse de si mesmo. Três delas:


1. Na década de 80, quando Guará tinha uns 15 mil habitantes, hoje tem uns 21 mil, um "empreiteiro" - pessoa que arregimenta gente para uma determinada obra - muito conhecido na cidade, como, de resto, todo empreiteiro é, candidatou-se a vereador. Eleito com votação maciça, já assumiu a presidência da Câmara. Sujeito bom porém muito simples, passou no carrinho de lanches de um primo meu, após uma sessão noturna da Câmara, pediu um xis qualquer e estava lá, saboreando o dito cujo, até que resolveu trocar os complementos e pediu, em alto e bom som: "Leva esse moio de tomati e trais a marionésia pra mim". A partir daí, e até hoje, a maionese nossa dos domingos, na maioria das casas guaraenses, é a famosa marionésia do vereador.


2. Lavrador das antigas, trabaiadô, esperto que nem mineiro, mais conhecido dos botecos do que dos ambientes chiques, Chico entra numa loja de calçados para comprar um tênis número 40 para o filho, que há tempos vinha querendo uma marca famosa para fazer bonito na escola. Olha daqui, olha dali, todo encabulado, observando os Asics, Nikes, Olympikus, Rainhas e outras marcas, até que chama a vendedora e pergunta:

- Quanto custa aquele nique ali?

- Aquele naique?

- Não, aquele nique ali, ó, preto.

- Eu sei, senhor, escreve nique, mas fala naique.
- Uai, então meu nome é chaique!


3. Essa aconteceu em Pires do Rio (GO), onde meu tio César, caçula de 11 dos Cherutti, família da minha mãe, mora há uns 15 anos, desde que vendeu uns alqueires aqui para se aventurar por lá. Mexeu com terra, virou caminhoneiro e agora sossegou, está tocando um mercado - minibox, como se diz por lá - com a família. Tempos atrás entra um cidadão com o mesmo linguajar do Chico lavrador ali de cima. Passa pelo caixa e pergunta pro César:

- Ô Xerife (apelido que o César ganhou lá, por causa do zóio pequeno e do cabelo e do bigode à la Charles Bronson), cê tem quéti chópi?

Ao que o meu tio, meio distraído, pensando que ele tivesse perguntado sobre pet shop, responde:

- Tem um pouco de ração, mas não vendo muita coisa de cachorro não.

E o cliente, que na verdade estava pensando em dar sabor ao lanche da tarde:

- Então me dá maionese mesmo.

4 comentários:

  1. Essas alegrias guaraenses (ou ianas?) fazem lembrar Rui Caetano Barbosa de Oliveira ao revisitar sua cidade na Bahia e deparar com letreiros com erros crassos. De repente, tal qual você menciona no chique e chaique, dr. Rui Barbosa exclamou: "Parabéns, irmão, o senhor acertou: Alfaiataria Águia de Ouro"! "´Né isso não, doutor, é Agúia de Ouro.

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  2. Guaraenses sim, Monte. E, pô, a história baiana deixou as minhas no chinelo. Agúia de ouro é sensacional. Grande abraço.

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  3. Legar o brog, seo Fischa...e sugiro que ucê ajunti essas istórias do interiô pra modi de ponhá num livro um dia quarqué.

    Aliás, não sei se em Guará a palavra "arco" tem o mesmo sentido adquirido no interior do Paraná. Só um analfabeto em caipirês não sabe que carro Flex é movido a "arco" e gasolina!

    Abração

    Nelson Capucho

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  4. É, Capa, o cara tava tão cheio de arco que acordô no meio do boteco e perguntô: "Doncotô?" Rsrsrsrs. Assinado: Fichinha, fii do Ficha.

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