Estamos em algum ponto do campus da UEL. No centro, Rose, de Marília, de cuja página no orkut chupei a foto. À direita, Dirceu Herrero Gomes, de Andradina, fazendo pose de galã de quermesse. Eu, de Guará. Três paulistas que se encontraram na turma de Jornalismo de 84/1. É a turma veterana do atual prefeito de Londrina, Homero Barbosa Neto. Enquanto Barbosa circulava todo marombado lá e cá, fazíamos festas e mais festas. Rose era da turma dos quietinhos e bem-comportados. Dirceu e eu morávamos na lendária república da Paraíba 322, em cima da madeireira Paroschi, na Paraíba quase esquina com Mossoró. Dois anos mais velho que a maioria, o que conta pra caralho quando se tem 18 anos de idade, Dirceu organizava as festas. Recolhia "ingresso" de cinco ou seis, para, à noite, recepcionar 100 ou 200. E impedi-los de entrar quem havia de? Eram três quartos grandes, um pequeno, uma sala ampla, uma cozinha gigantesca e mais um cômodo pequeno antes de se chegar ao banheiro. Aquilo virava um fervo só. Ainda vou achar as fotos de uma festa que se quis temática para a qual Ariel Palácios e Alexandre Horner chegaram fantasiados de televisão - ou um ou outro, não me lembro bem. Nosso recorde foram oito garrafões de vinho e quatro de pinga. Garrafões de cinco litros. Fora o que vinha em mãos. A rep ficava no primeiro andar, o único. Ao lado, o portão da madeireira. Embaixo, o escritório. Não havia muitas residências em volta, por isso o bicho pegava. Socávamos o som nas alturas. Das nove e pouco da noite, quando sorvíamos as primeiras caipirinhas, até o último maluco. A turma da casa geralmente bodeava antes. Eu aguentava até umas três, três e meia. Não havia festa em que o sofá - oh, sacrilégio, chamar aquilo de sofá - não amanhecia com dois ou três remanescentes. Às vezes, até o duro e gélido chão da cozinha abrigava uns bebuns desmaiados. Na mesa da cozinha também. A porta, ninguém lembrava de fechar - achou que nunca fechou. O ar ficava absolutamente irrespirável. Um ser humano normal não suportaria ficar 15 minutos lá dentro. Ficávamos sete, oito horas. Não nos preocupávamos com eventuais ataques fortuitos à geladeira, porque nunca tinha nada lá mesmo. Os quartos ficavam abarrotados. Às vezes tocava-se Caetano no violão para oito neguinho enquanto Tom Waits, aos 800 decibéis, chacoalhava cento e oitenta no cômodo ao lado. Loucura total. Na manhã seguinte, aula. O campus ficava - fica ainda, claro - a uns 20 minutos de busão. A gente pegava ali na pracinha da Quintino, em frente à padaria Flor de Liz. Muitas vezes cruzávamos com os travecos que subiam da HM ou com as últimas putas do Nanico. No Bar Globo, o café da manhã misturava-se com a última pinga da madrugada. O xis-tudo da Flor de Liz era a coisa mais ignorante do planeta, principalmente quando era o Roberto quem fazia. Sempre almoçávamos ali nos finais de semana, porque a pensão da dona Ana fechava e ninguém sabia cozinhar e não conseguíamos manter a mínima organização em termos de despensa. Dona Maria, uma de nossas muitas empregadas, chegou a cozinhar carne de segunda sem óleo. Ela chamava o Loyolla de "aio e óio". Foi o Mário Fragoso quem me alertou que garrafa de conhaque não se guarda na geladeira. Uma noite, no aniversário de 18 ou 19 anos da Carla Sehn, ele dormiu na cadeira e foi caindo aos poucos de lado, até encontrar o cestinho de lixo, que estava tão cheio que escorou o cara e o Marião passou o restante da festa roncando com a mão no queixo e o cotovelo no lixo. No casamento do Milton Dória com a Susy, ele entrou tão bêbado e desmaiado no Fiat 147 amarelo dele que tivemos de rebocar o carro na traseira do caminhão da cerveja, porque simplesmente não conseguimos jogá-lo do banco do motorista para o banco ao lado. Numa manhã em que chegamos ao campus com uma ressaca monstruosa, vimos nossos veteranos - Jogó, Jersey, Fredão, Texugo, Jotabê, Careca - dormindo em redes armadas no gramado do CECA, em protesto a sei lá o quê. E neguinho ainda vem me dizer que não precisa de diploma para ser jornalista. Na minha opinião, quem não passa por um ambiente universitário de verdade não poderia nem vender espetinho na esquina.
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Roger, publique fotos mesmo daquela época, mas me deixe fora disso.
ResponderExcluirFui amolecendo com tudo - a foto, a descrição daquela (não vou falar zona, pq pega mal)coisa que era a república. Que saudade. Juro que não lembrava do meu aniversário lá, mas foi mesmo, né... que fauna.
Muito elegante vc ter chamado tudo aquilo de 'ambiente univesitário', rs. Agora vincular à necessidade do diploma, meu amigo, já é demais.
Bastou apenas por a gente ter se conhecido.
Paraíba 322, quem fez UEL e era da turma que sabia curtir a vida, não esquece este endereço. Cada festa, hein??? Minha calourada foi lá, organizada pelo Dirceu. Agora entendi o lance do galã de quermesse da tua mensagem no celular, Rô.
ResponderExcluirCuidado com as fotos das festas que vc vai postar, muita gente pode ficar brava rsrsrsrsrs
Não lembro, mas sei que estava no salão esperando minha hora de ser atendida. E todo mundo sabe que mulher adora uma Contigo!, não posso negar. Numa das entrevistas tinha uma com a Adriane Galisteu e num trecho ela dizia que o que mais a ressentia era não ter feito faculdade, porque sempre que alguém comentava “nos meus tempos” de faculdade, ela ficava imaginando como teria sido ter cursado uma na época certa, claro. Comentei isso para concordar com o Fischer sobre a época boa da faculdade. Mas sou obrigada a dizer: vocês festaram muito nesse curso de Jornalismo o que leva a crer que o diploma é desnecessário já que se tornaram excelentes profissionais!!!
ResponderExcluirAh, e essa foto??!!! Fischer você tinha o cabelo enrolado!!! E o Dirceu!! Demais a foto!!!
Andréa
Que saudades! Não tinha visto esta foto. Toda vez que vejo a Rose, lembro do Voyage dela, que dava carona pra todo mundo. E a queda lenta do Mário Sérgio até a lata do lixo é inesquecível. Muitas saudades desse tempo. beijos
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