Nessa altura do campeonato, falar mal de Rubens Barrichello é chover no molhado. Chega a ser um pleonasmo. Incoerência até, porque normalmente critica-se quem tem algo a mostrar. E o nosso Barrica, definitivamente, não tem. Tudo que o envolve chega revestido de frustração. Sempre que está à beira de fazer algo, a decepção chega na frente. E o pior é que chega sempre fácil demais. Para a frustração, ele perde de goleada.
Neste domingo, em Istambul, ele sairia, mais uma vez, atrás de seu companheiro de equipe. Classificou-se em terceiro; Button, em segundo. Mas ele alardeara, antes da prova, que fora bom assim, porque pegaria o lado menos sujo da pista, o que permitiria uma largada melhor do que se tivesse obtido a segunda colocação. Então, vamos lá: todos sintonizados na Globo, porque Barrica fará uma largada sensacional e, além do companheiro de Brawn, pode, até, quem sabe, passar até o pole Vettel e assumir a ponta do GP a Turquia.
E o que aconteceu?
Patinou na largada, viu todos passarem por ele, caiu para décimo não sei o que, tentou uma patética corrida de recuperação, bateu em dois adversários e abandonou a prova antes do final. Esse é o problema de Barrichello: com ele, a decepção não vem assim tipo de repente, num detalhe que lhe atrapalhe em meio à prova, um acidente durante uma disputa espetacular de posição... Ele simplesmente patina na largada e, de favorito, cai para as últimas posições, de onde não sai mais. Vai do céu ao inferno em milésimos de segundo. Coloca tudo a perder num piscar de olhos. E resta, sempre, a indefectível explicação: “Foi uma pena, porque se...”
Sejamos cristãos com o nosso Rubinho. Vamos poupá-lo de xingamentos, de troças, piadas – qualquer tipo de gozação, enfim. Até porque dá para perceber, pelas imagens, que ele se aborrece muito com isso. E, afinal, é o piloto com o maior número de provas na história da Fórmula 1. Ele fez o que pôde, com acento diferencial. Se não dá para cobrar mais, vamos estabelecer com ele um acordo tácito: vamos poupá-lo, sim, mas desde que ele nos poupe também. Desde que ele não insista em dizer que está na melhor fase da carreira, que sente-se no auge de um piloto, que pode, sim, disputar o título mundial.
O destino foi muito generoso com Barrichello, disso ele não pode reclamar. Depois de disputar várias temporadas como parceiro de Michael Schumacher na poderosa Ferrari, e assistir cinco títulos do alemão, passou a ser tratado como ex-piloto, à beira da aposentadoria, até que um milagre ocorreu. Por causa de sua amizade com Ross Brawn na escuderia italiana, recebeu uma oportunidade única, extraordinária, cinematográfica: um carro anos-luz à frente dos concorrentes, o melhor carro da categoria, muito mais rápido, seguro e confiável do que McLaren, Ferrari, Willians. Só tinha de fazer uma coisa: superar seu companheiro de equipe, que, evidentemente, conta com o mesmo equipamento. E, passadas sete corridas, Jenson Button tem seis vitórias; Barrica, nenhuma.
Vou tentar convencer meus colegas jornalistas a assinarem esse acordo, Rubinho. Muitos vão virar a cara, resistir, mas acredito que, no fim, obterei um armistício. Mas duvido que o pessoal do CQC e do Casseta & Planeta aceite.
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