Alertado por um amigo jornalista de que Kaká teria sido a única voz dissonante contra a balbúrdia em que se transformara o ambiente de preparação para a Copa de 2006, passei a prestar mais atenção na performance e nas declarações de jogadores e comissão técnica, em busca de diferenciais desse time de Dunga em relação à equipe de Parreira & Zagallo, que festou muito e trabalhou pouco na Alemanha - quem não se lembra dos pouquíssimos treinos e muitas badalações do elenco na sofisticada Weggis, Suíça, nos dias que antecederam o último Mundial? E nem foi necessário esperar muito para obter uma resposta eloquente: na primeira entrevista no Recife, após o histórico 4 a 0 sobre o Uruguai, questionado justamente sobre a diferença de ambiente que estaria ocorrendo em relação ao grupo passado, Kaká, mesmo diplomático, foi bastante claro: "Esse grupo tem vontade de trabalhar e sede de vitórias". Para bom entendedor, uma frase com dois períodos basta. Fica claro, pela atuação em Montevidéu e pelas palavras do agora jogador do Real Madri, que o empenho é o fator que distingue o grupo de Dunga do grupo dos complacentes Parreira e Zagallo. Ou não foi esse sentimento - a falta de empenho, de raça, a falta de pegada - que ficou cravado no peito do torcedor após a derrota (mais uma, my God) para a França nas quartas-de-final? Quando teremos outra chance como aquela, de bater a seleção que nos tirou o título de 98? E que nos eliminara em 86? Chance como aquela, de vencer Zinedine Zidane e outros remanescentes de 98, never more! Nunquinha da silva. Isso que doeu mais. Tudo bem, podemos nos vingar em 2010 ou em outro Mundial, mas superar os mesmos carrascos de 98, essa já élvis, meu irmão. Jamé! Aquela atuação apática do dia 1º de julho, em Frankfurt, vai marcar nossa geração. Justo a geração do penta! Como que para provar que nem tudo pode ser perfeito, já que ganhamos dois títulos e fomos a três finais nas últimas quatro Copas, vamos ficar marcados pela pecha de não nunca termos conseguido vencer a França. Não que eu me lembre. Analisando agora, com mais calma, pode-se concluir que a goleada sobre o Uruguai - que enterrou um tabu de 33 anos sem vitória brasileira no Centenário - se deu, sobretudo, à vontade, à garra, à disposição dos jogadores em campo, a começar pelo despretensioso chute de Daniel Alves que facilitou deveras a dura missão daquela tarde. Com aquela vitória, foi-se o incômodo tabu e veio a inesperada liderança das Eliminatórias, ainda que no saldo de gols, devido à derrota, também inesperada, dos paraguaios, em casa, diante do Chile. Com o futebol aguerrido e encardido de sempre, o Paraguai - que liderara as Eliminatórias desde o início - é o desafio da vez: superar a retranca alvirrubra, demonstrar o mesmo empenho do último domingo, consolidar a marca da disposição, se possível com alguma arte, é a tarefa que a seleção tem pela frente nesta quarta-feira, no Estádio do Arruda. Uma vitória que consolidaria a liderança, nos aproximaria da África do Sul e comprovaria que a turma de Dunga é muito melhor que o galático e insosso grupo de 2006.
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O blog está ótimo, Rogério Fischer! Parece que estou ouvindo você falar. Um abraço e bola pra frente.
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